Na tarde de quarta-feira
(13/6), foi votado o mérito global do relatório substitutivo ao PL
(Projeto de Lei) 8035/2010, PNE (Plano Nacional de Educação),
sistematizado pelo relator da matéria, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR).
O texto determina que o Brasil deve alcançar, em dez anos, um
patamar de investimento público direto em educação, ou seja, recurso
público para a educação pública, equivalente a 8% do PIB (Produto
Interno Bruto). No entanto, por meio de um novo parágrafo ao PL,
proposto pouco antes de ser votado o mérito global do relatório, o
dispêndio total em educação pública pode atingir o volume de 10% do PIB,
desde que os recursos adicionais sejam alcançados por meio de
dividendos resultantes da exploração da camada pré-sal.
Para a rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que criou e
coordena o movimento “PNE pra Valer!“, as alterações do texto são
resultado da ação da sociedade civil, com sua capacidade de
argumentação, articulação e mobilização. Na opinião de Idevaldo Bodião,
professor da Universidade Federal do Ceará e ativista da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, o aumento no percentual, ainda que
pequeno, representa uma conquista, mas a sociedade deve se manter firme
na reivindicação pelos 10% do PIB para a educação pública. “Nossa
reivindicação deve ser pautada na lógica da expansão do atendimento
escolar desde a creche até aos cursos de pós-graduação, garantindo-se um
padrão de qualidade socialmente referendada”, explicou.
De acordo com o cientista político e coordenador geral da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, em 2010, quando o
Executivo Federal apresentou seu projeto de PNE, muitos duvidavam que o
texto pudesse assumir o conceito de investimento público direto.
Diversos analistas e atores sociais dedicados à pauta da educação
consideravam que o mais provável era a diminuição do patamar de
investimento público na área. “Quem não acreditou na força da sociedade
civil que realmente quer consagrar o direito à educação pública de
qualidade no Brasil perdeu. E continuará perdendo”, complementou Daniel.
Tramitação do PNE
- A proposta de novo PNE está sendo
debatida na Câmara dos Deputados desde dezembro de 2010. Ela estabelece,
por meio de vinte metas a serem atingidas em até dez anos, os rumos da
educação brasileira no próximo decênio, orientando a ação dos governos
federal, estaduais, distrital e municipais no setor. A Comissão Especial
que analisa a matéria ainda precisa votar mais de 150 destaques que,
caso sejam aprovados, irão alterar o conteúdo do texto.
A data marcada para a deliberação final da proposta de novo PNE, com
a votação dos destaques, é 26 de junho, podendo se alongar conforme o
ritmo dos debates. Como o Plano tramita em caráter conclusivo, ele pode
seguir diretamente para o Senado Federal. Contudo, caso haja algum
recurso, o PL terá que ser apreciado pelo plenário da Câmara dos
Deputados, retardando ainda mais a aprovação do novo plano.
Votos dos partidos
– O objetivo da votação de ontem foi
analisar o mérito global do relatório de Angelo Vanhoni. Dos 31
deputados presentes, apenas Ivan Valente (PSOL-PT) votou contrário ao
texto, apresentando proposta de um relatório substitutivo global.
Aprovaram o parecer os seguintes partidos: PT, PMDB, PSDB, PP, DEM, PQ,
PSB, PDT, PSC e PCdoB. Partidos aliados e de oposição que votaram a
favor, manifestaram grande insatisfação com a nova redação da Meta 20,
que trata do financiamento da educação.
"No geral, o relatório agradou a todos os partidos. A única ressalva
é em relação à meta 20. Todos os trabalhos feitos pelas organizações do
setor no país mostram que, para atingirmos as metas do PNE, serão
necessários 10% do PIB. Os 8% não viabilizam”, afirmou o deputado
Eduardo Barbosa (PSDB-MG) em matéria do jornal O Globo (Comissão do PNE
sugere 8% do PIB para Educação, 14 de junho de 2012).
50% do pré-sal para a educação
- Vários deputados
questionaram o acréscimo de um artigo ao parágrafo 5º, que vincula o
alcance de 10% do PIB para a educação por meio de recursos provenientes
do pré-sal para o setor, uma vez que os recursos ainda não estão
disponíveis.
Sobre isso, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que é
inaceitável um texto que fala que “poderão ser utilizados recursos do
pré-sal”. “Não existe recursos do pré-sal ainda”, apontou.
De acordo com matéria do Portal IG, o relator explicou que meio
ponto percentual do PIB a mais no PNE representa R$ 25 bilhões a mais
por ano, quantia que pode ser destinada para as creches ou para a
educação integral. “Ou seja, paga uma coisa ou a outra, e não as duas.
Nós queremos recursos para financiamento, com qualidade, de todas as
metas”, afirmou Bodião.
Segundo a deputada professora Dorinha (DEM-TO), deve-se investir
mais em educação básica e incluir o CAQ (Custo Aluno Qualidade) como
mecanismo de financiamento capaz de equilibrar a educação no país.
Na avaliação de Daniel Cara, mesmo diante das conquistas acumuladas
ontem, é preciso conquistar na redação da Meta 20, o patamar de 10% do
PIB de investimento público direto em educação. “A proposta de 8% do PIB
mais o gatilho do pré-sal sinaliza a vontade de um importante conjunto
de parlamentares da base do governo em alcançar os 10% do PIB para
educação pública, contudo é importante que a Comissão Especial garanta a
conquista por inteiro, citando o patamar na meta sem condicionantes”.
Agora, o debate deve acontecer entre dois cenários: 8% do PIB de
investimento público direto, com um mecanismo para alcançar 10% do PIB
ou 10% do PIB de investimento público direto. Para a rede da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação só é aceitável aprovar o patamar de 10%
do PIB com investimento público direto. “Creio que o Brasil não tem
dúvida de que a prioridade é a melhoria da escola pública”, defende
Daniel.
Vitórias garantidas
- Também graças à votação do mérito
global do relatório, questões importantes que não receberam destaques já
serão encaminhadas para o Senado Federal. É o caso dos mecanismos de
controle social, em especial a obrigatoriedade de relatórios bienais a
serem publicados pelo Inep sobre o cumprimento das metas do PNE, além da
implementação gradativa do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial),
formulado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, até o alcance
do CAQ (Custo Aluno-Qualidade).
O primeiro deve ser implementado em até dois anos após o início da
vigência do PNE. Trata-se de um mecanismo de financiamento que garante a
universalização de um padrão mínimo de qualidade. O segundo, a ser
efetivado até o último ano de vigência do PNE, determina o esforço para o
Brasil alcançar um padrão de qualidade equivalente aquele verificado
nos países mais desenvolvidos.